Quando abri meus olhos eu sabia que não estava na biblioteca. Tive medo de respirar, tive medo por Dave, por mim. Eu ainda estava com a foto impressa no bolso. Estava frio e escuro e então resolvi abrir os olhos.
Senti uma pontada na perna e automaticamente coloquei a mão no ferimento, deveria estar sangrando ou aberto. Mas não, ele estava fechado. Minha cabeça estava dolorida e consegui com dificuldade ficar em pé. Foi então que eu percebi um vulto atrás de mim.
Agora eu não tinha mais medo, eu tinha raiva porque eu sabia quem estava atrás de mim. Eu conhecia aquela respiração.
- Quem é você … de verdade Samuel, se este é o seu nome de verdade – disse ainda de costas para ele.
- Não precisa ser assim, Clara eu não …
Eu me virei e ele estava como na última vez, vivo na minha frente. Primeiro dei um passo para trás, tudo o que eu sentia por ele sempre foi real. Era verdadeiro. No entanto para ele não era. Agora eu precisava descobrir a verdade.
- Tem certeza ? - agora eu dei um passo para frente e apontei o dedo para ele – Você me enganou durante meses, me usou …
- Eu queria te proteger, Clara - ele tentou pegar meu braço, mas eu repeli com raiva.
- Proteger – eu ri cinicamente – fiquei duas semanas no hospital... isso é me proteger ?
- Eu sinto muito, mas eles te encontraram e eu precisava fazer eles acreditarem que você não sabia de nada …
- Eles ? Eu quero a verdade, você me deve isso....
Ele parecia cansado, agora olhando seus olhos de perto eu via a sombra de noites sem dormir. Ele tinha manchas roxas nos braços e ainda tinha os arranhões daquele dia. No seu rosto bem na face tinha um grande ferimento ainda aberto. Seus olhos encontraram os meus e meu coração acelerou.
Sam puxou um banco ou algo assim e sentou. Primeiro ele passou as mãos pelo cabelo e me olhou novamente. Seus olhos negros eram os mesmos.
- Eu fiz tudo, tudo para deixar você fora disso, mas eu falhei, Clara. Eu me envolvi eu me perdi... - ele parou por alguns segundos e abaixou os olhos. Eu engoli seco.
- Seu nome ?
Ele riu e me olhou
- Me chamo Samuel, Clara. Fui enviado para proteger você, manter você e o mapa em segurança. Mas eu me apaixonei, eu perdi o rumo e deixei que eles nos encontrasse. Você poderia ter morrido aquele dia se eu … - ele fechou os olhos com as mãos.
Eu estava sem reação. Eu queria a verdade, mas tinha medo de escutar. Eu precisava sair daquele lugar, respirar.
- Se eu o que ? Você mentiu para mim, Samuel. Agora você aparece aqui vivo, eu encontro isso - mostrei a foto e ele não pareceu surpreso - como me trouxe aqui ? O que você fez com Dave ?
Quando falei em Dave ele me olhou novamente e levantou. Deu um passo na minha direção e eu sabia que isto o incomodava. Eu gostei.
- Dave ? Você quer saber de Dave ? - ele falou e andou até cadeira e com raiva a jogou na parede. Eu dei um passo para trás. - Ele esta bem, ficou na biblioteca. Você não deveria andar com eles, Benjamim...
- Benjamim salvou minha vida, Sam. Duas vezes.
- Ele vai colocar você em perigo, ele esta sempre atrás de problemas. Ele …
- Ele ? Você acha que ele é o problema ? Quem são eles Samuel e o querem de mim ?
- Eu não posso dizer Clara. Eu preciso que você confie em mim. A pedra junto com o diário que eu te dei, você precisa usar. É importante.
- O que a pedra faz ?
- Você precisa colocar agora, Clara – ele se aproximou de mim e me deu o anel com a pedra que estava dentro o saco azul. - Use. - ele me olhou nos olhos. Ele estava sendo sincero, mas eu o afastei.
- O que faz a pedra ? - eu gritei.
Ele foi até a porta e se apoiou com a mão de costas para mim.
- Ela faz você esquecer coisas. Tudo que você viu, viveu antes de me conhecer.
- Nunca - gritei - Esquecer ? Eu vou atrás da verdade e nada vai me impedir... se tem alguma possibilidade de meu pai estar vivo - eu respirei e engoli seco – eu vou descobrir.
Ele veio até mim e segurou meus braços e me puxou para perto dele.
- Eles vão te matar, Clara. Eles são perigosos. Nem Benjamim sabe com quem esta lidando.
- Então me diga, Samuel.
- Eu não posso.
- Bom então você vai ter que lidar com isso. Eu não usar este anel.
Ele soltou as mãos dos meus braços e se afastou. Eu coloquei o anel em uma das mesas.
- Eu não sei se vou poder proteger você sempre, Clara, eu …
- Não quero sua proteção, eu quero a verdade. Então se não vai me falar nada eu vou embora - fui em direção a porta, mas ele me impediu de passar. Segurou meu braço novamente.
- Quem esta fazendo isso com as garotas … é um Nasu. Uma criatura carnívora. Benjamim vai saber o que fazer. As garotas estão no cemitério. Eu não posso entrar lá, então deixe Benjamim resolver isso.
Eu repeli a mão dele com força e antes de abrir a porta eu falei:
-Quero um favor seu, Sam – me virei para encontrar os olhos deles – quero que você fique longe de mim. Não quero nada seu, você me entendeu ?
- As coisas não são tão simples assim, Clara, você não entende …
- Porque você não explica então ? - gritei indo até a direção dele. Mas ele não se moveu e abaixou os olhos – Tudo em você sempre foi uma grande mentira, Sam. E eu que sinto muito. Sinto porque você podia ter feito uma escolha e não fez.
Sai pela porta. Eu estava num Motel barato na beira da estrada. Primeiro eu precisava sair daqui, depois achar o cemitério da cidade e salvar as garotas. Não tinha nada em volta e o prédio parecia abandonado. Senti uma forte dor na cabeça e tudo ficou escuro por segundos. Só então que a claridade a biblioteca me fez respirar novamente.
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