Fazia dois dias que eu tinha decidido seguir sozinha. Claro que tinha acontecido muita coisa nesse longo tempo. Primeiro veio Gregório me pedir para ficar com eles mais algum tempo até que eles tivessem certeza de que eu estaria em segurança, depois Dave tentou se desculpar. Deixamos a garota no hospital e eles me levaram para o hotel. Em todo caminho Benjamim não me disse uma palavra. Apenas dirigia com os olhos focados na estrada.
Quando chegamos me despedi do grupo apenas com um movimento de afirmativo e acredito que tanto Gregório quanto Dave entenderam e fizeram o mesmo. Para minha surpresa Benjamim não disse nada e nem ao menos fez questão de me olhar diretamente nos olhos. Desceu do carro e pegou no banco de trás uma pequena sacola e me entregou. Posso dizer que praticamente jogou nas minhas mãos.
- Isso é pelas roupas queimadas. Tome cuidado - disse num tom mais baixo e agora eu me assustei. Vi seus olhos num tom que nunca tinha visto antes e isso me fez pensar se eu tinha tomado a decisão certa. Ele disse isso e foi embora. Eles entraram no carro e os vi sumir na estrada.
Desde que eu tinha decidido sair de casa e ir atras da verdade eu não tinha sentindo medo, mas agora na frente no motel Encanto eu senti. Queria ter ficado mais tempo com Gregório para saber algumas informações sobre meu pai, mas era melhor assim. Assim que eu entrei uma senhora de vestido bege e com um enorme colar de pedra verde veio me receber. Desde as cortinas até o sofá tudo era muito bege. Bege nossa esse deveria ser o nome do motel e não Encanto. Enquanto ela procurava um quarto vago (duvido que tinha mais gente naquele lugar) eu entrei numa pequena sala entre a recepção e o que parecia uma sala de jantar. Perto da janela bem acima da lareira central tinha algumas fotografias antigas. Meu coração soltou e eu nitidamente perdi o equilíbrio por alguns minutos. Lá entre muitas estava uma foto do meu velho pai. Respira ... Respira.
Ele parecia mais velho que nas minhas lembranças e mesmo ainda entre as batidas do coração e o choro sufocado, eu sabia que ele não tinha morrido naquele dia. Não naquele dia... Percebi que a senhora vinha na minha direção e coloquei a foto novamente no lugar e respirei fundo para que ela não percebesse minha perda de controle. Mas ela percebeu, eu sabia. Alguma coisa nela era familiar, eu conhecia aqueles olhos e me perdi nos meus pensamentos.
Tentei ser o mais natural possível, mas vi que ela cuidava cada movimento meu detalhadamente, como um animal. Então eu reconheci os olhos. Ela era um deles, eu sabia. Quando fechei a porta do quarto e eu estava sozinha comigo, tentei entender porque se ela era um deles, meu pai estava com ela na foto. E ele parecia bem feliz e isso doía muito. Mas tudo mudou num segundo ....
Em cima da minha cama junto com toalhas e sabonetes begesss do motel tinha uma arma. E eu reconheci ela logo que olhei, era de Benjamim.
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