segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Series - Final do Piloto

    O homem da cafeteria estava lá com a doze engatilhada. Todos estavam voltados para mim, apenas o que estava na porta do quarto do motel se moveu na direção dele. Eu permaneci com os pés firmes do chão. Um deles com o rosto desfigurado me olhava entre os dentes. Mas a voz do homem com a doze quebrou seu olhar sobre mim e se voltou para ele:
 
 
- Não é atrás dela que vocês estão, deixem ela ir – exigiu ele. Ele era tao grande quanto Benjamim, mas ao mesmo tempo parecia ter menos peso nas costas. Estava rindo de mim por algum motivo que eu não entendia.

    Uma das criaturas uivou e o resto de roupa ainda do corpo dele rasgou. Dos seus pés surgiram patas e seus olhos ficaram vermelhos como o dos outros também. Com uma voz de cão, o mesmo que me olhava respondeu:

- Dave, você que esta onde não foi chamado …

    Ele falou e deu um passo na minha direção. Um tiro certeiro fez a criatura cambalear e cair no chão. De trás do prédio da cafeteria eu vi Benjamim vindo na minha direção. Mantive meus olhos neles e vi quando ele acertou outra criatura com a bainha da arma e o golpeou com os pés.
 
 
    Senti minhas mãos relaxadas com a presença dele, mas então meu campo de visão foi bloqueado. Sem que eu percebesse a criatura que estava no chão estava a poucos metros de mim.
 
 
   Todas as outras criaturas foram na direção dele e ele lutava contra vários. Vi seu corpo sendo jogado sobre o capô do meu carro a pouco metros de mim. A coisa na minha frente estava rindo, como se fosse possível imaginar um cão rindo, brincou de zigue-zague comigo como gato e rato, quando tentei correr. Ele sabia que eu era uma pressa fácil. Quando o toque nele ia ser inevitável Benjamim gritou:
 
 
- Dave ! - mas antes de escutar o grito ele já estava lá, atrás de mim. O tiro contra a criatura na minha frente me deixou surda por segundos e senti o cabelo dos meus ombros voar e vi a bala em câmera lenta passar por mim. Com o impacto do som da explosão perdi o equilíbrio, mas ele me pegou a tempo.
 
 
- Peguei - ele respondeu, não sei se para mim ou para Benjamim, mas uma das suas mãos estavam em volta da minha cintura e me mantinha firme contra seu corpo. Com a outra ele mantinha a arma em punho contra a criatura que pela segunda vez parecia-se recompor.
 
 
     Neste tempo perdi Gregório de vista, mas não Benjamim. Ele estava com o rosto vigoroso como se a melhor coisa do mundo fosse matar aquelas coisas. Seus olhos desviaram por alguns minutos e vi quando olhou para a mão de Dave em mim.


     Senti uma respiração no meu pescoço e vi os olhos longos de Dave sobre mim. A arma ainda em punho. Ele tinha uma beleza peculiar e ria. Dentes brancos e retos de um legitimo Dom Juan.

- Gracinha de vestido para matar alguns demônios.
 
 
     Eu não ri, nem tinha percebido o que eu estava vestindo. Uma sobre legue verde claro, as botas eram sempre as mesmas. Confortáveis e compridas até abaixo do joelho, mas eu estava sem a legue. E neste momento de descuido meu e dele algo nos atingiu. Senti o impacto forte contra o chão e a pele da coxa rasgar contra a brita.
 
 
    O homem em forma de criatura tinha novamente o rosto humano e eu reconheci imediatamente. Era o barman do bar da noite anterior. Ele tinha o pescoço do Dave em uma das mãos e com a outra tinha em especie de faca ou ferro pontiagudo. Eu não tinha dúvidas ele ia matá-lo.

     Eu tinha pouco tempo para agir e nos meus pés estava a doze de Dave. Eu nunca tinha engatilhado uma arma, ainda mais uma dessas, mas eu fiz. Sem pensar eu atirei e com o disparo eu fui arremessada no chão. Quando levantei a cabeça, vi Dave rindo livre da criatura. Eu o tinha acertado na cabeça em cheio, mas então ele me levantou com força.

- Enloqueceu ?! Poderia ter matado Dave – gritou Benjamim arrancando a arma da minha mão e jogando para Dave que se aproximava, ainda rindo. - E você mais cuidado. - ele se virou para Dave - Mais uma distração infantil dessas pode custar a vida.

   Benjamim não me perguntou nada, mas senti meu corpo ficar quente quando seus olhos percorreram meu corpo e ele viu o sangue escorrer da minha perna. Antes que ele fizesse algo Dave me segurou pelos braços e me levantou no ar. Ele ria como uma criança não sei de ter salvado sua vida ou do tiro que eu acertei, mas quando eu o olhei fixamente ele me colocou no chão.
 
 
- Você esta bem ? - ele permanecia com as mãos em mim e eu não gostava disso.

   Ele não demorou para perceber que eu mantinha os olhos em Benjamim e deu um passo para trás.

- Agora estamos quites – eu disse a Gregório que estava vindo na minha direção – Não se preocupe já estou indo embora – e me afastei deles. Benjamim parecia surpreso com minha reação. Eu também.

    Em minutos recolhi minhas coisas e coloquei numa mochila perto da porta. Entrei no banheiro para trocar de roupa quando senti o cheiro de fumaça. Para minha surpresa quando sai era meu carro em chamas.

    Minhas Coisas !!! - era o que eu tinha em mente, mas antes de chegar perto Benjamim me segurou pelo pulso.

- Eles podem rastrear pelo seu cheiro, somente assim você vai ficar segura - ele me estendeu uma calça jeans e um agasalho. Então eu vi, minhas coisas estavam queimando inclusive o moletom azul de Samuel.

    Minha primeira reação foi levantar a mão e o acertar novamente no meio do rosto, mas acredito que dessa vez ele iria revidar. Dave manteve os olhos em mim e Gregório em Benjamim.

   Soltei meu braço com força e fui na direção do carro em chamas. Mas ele me alcançou antes que eu sentisse o calor do fogo e me pegou pelo braço. Foi me arrastando até o quarto e eu gritei para que ele me soltasse.

    Dave veio em nossa direção, mas Benjamim endureceu o corpo e me colocou para dentro do quarto.

- Você – ele apontou para Dave – fique fora disso e olhou para Gregório – Não vou machucá-la.

    Eu estava acoada e recuei quando ele foi na minha direção. Bati com as pernas na cama e ele riu. Ele passou as mãos pelo cabelo e as manteve assim por alguns minutos.

- Eu sinto muito. - escutei como um sussurro, mas ele repetiu mais alto – Eu sinto muito. Acha que sou este tipo de cara que queima coisa de garotas – ele andava pelo quarto com as mãos na cabeça ainda – Não! - ele gritou

  Eu senti meu corpo tremer e sentei na cama, já que minhas pernas tinham ficado moles dessa vez.

- Conheci seu pai Clara e posso te fazer apenas uma pergunta para saber se você tem o mesmo caráter dele.

    O modo como ele falava o movimento dos lábios e a cova do lado esquerdo foram deixando minha visão destorcida eu sentia a ponta das mãos formigando. Mas quando ele falou do meu pai, algo dentro de mim despertou.

- Você trocaria a vida de qualquer um de nós por suas coisas materiais ?

    Tomei um susto com a pergunta dele e o olhei diretamente nos olhos e ele continuou:

- Eles podem nos localizar pelo cheiro das suas roupas, de alguma forma você tem algo que eles querem, eu não sei o que é, por isso...

     Ele não terminou de falar eu tinha entendido a pergunta e nenhuma vida válida nada que estava queimando no carro. As lembranças de Samuel eu tinha guardado comigo. Me levantei e peguei em cima da comoda as roupas que ele tinha me dado antes.

- Vou me trocar

     Ele não falou nada apenas me seguiu com os olhos até que eu fechei a porta do banheiro. Quando sai eu parecia muito menor do que era. As roupas eram enormes, mas eu não falei nada.

     Quando ele foi abrir a porta do quarto eu segurei sua mão. Quando ele sentiu meu toque seus olhos procuraram os meus rapidamente.

- Eu sei o que eles querem. Se você conheceu meu pai então você sabe sobre o livro de Ehd ? - eu tirei de dentro do agasalho que ele me deu o livro do meu pai e o entreguei.

     Ele colocou minhas mãos sobre o livro e sussurrou:

- Guarde isto Clara. Precisamos ir. Conversamos assim que estivermos seguros.

   Sai do quarto com ele. Senti uma leve pontada na minha perna que já estava molhando o jeans. Tinha sido um corte feio, mas eu não tive tempo de limpar. Entrei no carro ao lado de Dave e ele me estendeu a mão:

- Dave, gracinha ainda - ele ria e mesmo a noite desceu os óculos escuros para me olhar melhor.

- Clara – ri sem graça

     Gregório sentou na frente ao lado de Benjamim que regulou o espelho na minha
direção. Vi seus grandes olhos azuis sobre mim.

- Próxima parada – Gregório abriu um grande mapa, o mesmo que eu já tinha visto na casa de Samuel, assim como Trevor e meu pai, ele nunca me falava nada sobre seu trabalho, senti medo do que eu poderia descobrir sobre ele e um frio percorreu meu corpo – Flether - concluiu Gregório.



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