Fiquei sentada no degrau entre o bar e o salão até que o barulho das madeiras estralando no fogo e o cheiro da fumaça começaram a me incomodar. Gregório tinha amontoado todos os corpos no centro do salão, incluvise o que tinha me atacado e parecia uma grande fogueira.
Benjamim tinha saido duas vezes do bar e na última vez ele trouxe uma camisa escura e colocou perto de mim. Eu não tinha entendido para que era até que Gregório sentou ao meu lado.
- Precisamos sair daqui, Clara, certo ? Este é seu nome ?
Eu apenas fiz sinal com a cabeça e vi que Benjamim nos observava de longe.
- Pode parecer estranho na primeira vez, mas depois de um tempo você acaba esquecendo, certo ? Pense que não passou de um pesadelo.
Gregório parecia gentil diferente do homem que eu tinha visto na porta do bar e o mesmo que arrastava corpos como se estivesse amontoando roupa suja ou lixo. Ainda estava gelada e ainda sentia o cheiro horrivel de enxofre em mim.
- Você precisa tirar este casaco sujo de sangue. Coloque isso, esta limpo. - disse Benjamim se aproximando de mim e de Gregório – ele colocou a camisa sobre mim.
Minha carteira de motorista estava sobre o meu colo e quando tirei o casaco de Samuel ela caiu nos pés de Gregório. Ele segurou por alguns minutos e assim como Bj ele também parecia surpreso.
- Você é prima ou alguma coisa de Trevor Scott ?
O nome do meu irmão soou diferente para mim. Ninguém nunca tinha me perguntado o nome dele dessa forma. Tão formal.
- Trevor, não ele é meu irmão.
Eu ia perguntar de onde ele o conhecia, quando vi que minha resposta tinha criado um clima estranho entre eles. Benjamim se aproximou de mim e eu me levantei, reagindo a sua aproximação. Gregório também ficou me observando, mas foi Benjamim que me perguntou:
- Irmã ? Trevor não tem irmã. Quem é você ?
Ele parecia irritado como se eu tivesse dito alguma coisa errada e como me mantive em silêncio ele me pegou pelos braços. Benjamim era muito mais alto e não senti meus pés no chão, só quando minhas costas bateram no bar.
- Quem é você ?! - ele gritou entre os dentes.
Eu estava com medo. Não sabia quem eram aquelas pessoas e tinha sido atacada por alguma coisa que eu ainda não sabia o nome. Me senti acoada como um animal encurralado. Ele me sacudia para responder a sua pergunta, quando a agenda do meu pai caiu do chão. Nos pés dele.
Gregório pegou a agenda e gritou:
- Benjamim, chega !
Ele me soltou e viu que eu tinha lágrima nos olhos. Eu não tinha vestido a camisa que ele tinha me dado e voltou a sangrar da lateral do meu corpo. Me abraçei para amenizar a dor e o frio.
- Como você conseguiu isto ? Não vamos machucar você – ele olhou para Benjamim sério – eu prometo. Mas onde conseguiu esta agenda ?
Antes de responder eu limpei meu rosto com a parte de fora da mão e limpei as lágrimas que insistiam em cair.
- Era do meu pai. Ele deixou para mim.
- Pai ? - ele olhou novamente para Benjamim
- Jim Scott.
Gregório estendeu a agenda e a entregou a mim. Eu a peguei rapidamente e quando vi que ambos estavam sem reação, eu sabia que era a hora de sair. Peguei o casaco de Samuel e fui na direção da porta. Eles não me seguiram, mas ele ainda tinha algo que era meu. E me virei para eles:
- Eu não sei quem são vocês, mas obviamente salvaram minha vida. Obrigada. Mas você ainda tem algo que é meu e eu o quero agora.
Benjamim olhou para Gregório que fez um sinal com a cabeça e ele tirou o papel amassado do bolso e colocou na mesa que ainda não estava em chamas na sua frente.
Peguei o papel e o olhei por alguns segundos. Ele não parecia arrependido do que tinha feito, mas também não estava satisfeito com a minha reação. Andei em direção a porta até Gregório quebrar o silêncio.
- Clara, seu pai, por algum motivo a manteve longe de tudo. Vá para casa, seu irmão deve estar preocupado com você.
Ele não sabia nada sobre mim, mas como sabia sobre meu pai. Quem eram eles ?
- Eu não sei como você sabe quem é meu pai, mas você não sabe nada sobre mim. Então mais uma vez obrigada por salvar minha vida, mas daqui para frente eu faço as minhas escolhas.
Bati a porta do bar com força e entrei no meu carro. Vi quando eles sairam antes de alguma coisa explodir lá dentro. Eles tinham uma caminhonete grande e preta com os vidros fumês. Segui para o lado que indicava o motel no google. Encanto.
Eu não tinha certeza, mas a sensação era de que não seria a última vez que eu ia vê-los. Eles seguiram para a direção contrária na estrada. Por mais escuro que fossem os vidros, eu tinha a impressão de ver os olhos claros de Benjamim em mim.
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