terça-feira, 5 de julho de 2011

Series - Primeiro Dia - Parte 02

   A viagem até a pequena cidade de Prateado era a primeira parada. No caminho eu entendia porque era a rota preferida dos casais apaixonados. Era uma estrada reta com uma grande vegetação ao longe. Numa determinada parte do caminho era tão grande a quantidade de galhos que criavam uma cobertura sobre a estrada. Parei o carro no acostamento e chequei o mapa. Deveria ter um hotel ou algum motel nesta estrada a alguns metros a frente. Mesmo em uma estrada eu ainda sentia a presença de alguma coisa me observando.
   Resolvi voltar para o carro e meu coração somente parou quando eu já estava dentro de um restaurante na beira da estrada. Tinha um som alto e alguns caminhoneiros estavam conversando em frente ao bar, quando percebi que não era bem um restaurante. Senti que todos mantiveram os olhos em mim até que eu me acomodei no canto. A mesa estava atrás de um dos pilares do salão e demorou até que o homem com uma aparência estranha me servisse um café.
   O café estava quente e eu senti um alivio quando a música terminou. Eu ainda escutava eles conversando, mas todos pareciam ter esquecido da minha presença. Por incrível que pareça, ainda levava minha bolsa com as mãos para proteger a agenda velha. Eu tinha comprado antes de sair de River um pequeno netbook onde eu poderia fazer as anotações e as pesquisas, tinha comigo também meu velho modem.
    A primeira parte da agenda do meu pai, tinha um ditado que eu sabia que era dele A vida não passa de um jogo, você apenas precisa saber as regras. Na mesma página tinha um cupom e uma caixinha de fósforos de um motel. Encanto era o nome, o mesmo nome do lugar que indicava no mapa e no Google a alguns kilometros a frente. Seria minha primeira parada.
    Por alguns minutos o café não parecia mais tão quente e uma leve brisa soprou sobre mim. Senti meus cabelos sobre o rosto e as folhas da agenda se abrindo como um leque. De dentro um pedaço de papel pardo com um desenho saiu voando.
    Parecia que o papel tinha vida, pois por mais que eu tentasse ele parecia fugir das minhas mãos e ele parou exatamente no meio da roda de caminhoneiros. O maior deles se afastou para que eu entrasse no circulo e pegou o papel no ar antes de mim.
- Obrigada – eu respondi sem o encarar segurando o papel e tentando puxar na minha direção, mas ele parecia decidido a não soltar.

- Uma bebida pelo papel, docinho – disse entre dentes e se colocou na minha frente com o papel acima de minha cabeça como se fosse estivesse brincando com um animal de estimação.
    Eu nunca fui uma garota dessas indefesas e incurtei a distância entre mim e o grandalhão.
- Você pode me devolver, eu não quero … - mas ele me cortou

- Isto ! Vamos apimentar as coisas meninos - ele indicou o som no canto para o barman e virando diretamente para mim, amassou o papel e o colocou no bolso da frente da calça de jeans.
Todos riram e eu não iria me intimidar por alguns caminhoneiros de beira de estrada e o encarei novamente:
- Não vou pedir mais, quero o papel agora
    Mas no momento que levantei a mão ele me segurou pelo mesmo pulso e colocou a outra mão na minha cintura.
- Uma dançinha primeiro …
    Mas antes dele girar eu já o tinha atingido com um soco no meio do rosto. Ele era muito grande, mas eu sabia exatamente o que estava fazendo e ele cambaleou. Todos ficaram em silêncio e eu tentei sair do circulo em minha volta.
   Quando eu achei que estava fora do circulo outro caminhoneiro maior ainda me segurou pelos dois braços e me girou para o que estava escorado no balcão com a mão no rosto. Senti a fúria dos seus olhos quando ele viu que tinha sangue no nariz.
   Trevor tinha me ensinado muito bem a me defender. Eu ri, mas tive a impressão que mais alguém riu.
    Quando vi que ele vinha na minha direção e eu não teria outra saida, mergulhei o pé com o salto da bota no pé do desgraçado que me segurava e com o cotovelo o acertei no queixo. Só que ele era muito grande e apenas moveu o rosto. Por alguns segundos eu tive medo de olhar para trás.
- Segurem ela ! – o caminhoneiro ordenou a mais três que estavam em minha volta, quando um som de madeira sendo quebrada ecoou do fundo do bar. Exatamente da mesma direção que eu estava.
Todos olharam tentando encontrar a origem do estouro quando alguém batia palmas ironicamente vindo em nossa direção.

BS



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